
Há algum tempo atrás eu navegava para o sul, ao longo da costa leste da ilha de Patmos, que eu nunca tinha visto antes, exceto uma única vez, de muito longe, vindo do oeste. Estando agora mais perto, pude apreciar melhor e ver como o elevado contorno da ilha conduz ao Mosteiro de São João, em direção ao seu cume.
Todos nós falamos da grande beleza que estas ilhas do Mar Egeu possuem; e assim o fazemos em linhas gerais. Aquele mar, glorioso em cor e textura, é tanto mais maravilhoso por esta diversidade de suas ilhas – cada tonalidade, desde o verde intenso próximo da costa, até a distante ametista no horizonte, que pode ser terra ou uma nuvem distante um longo dia de navegação. Mas uma coisa atinge o olho ocidental ao mesmo tempo, mais do que a cor, e é a nudez da terra.
Não é a nudez cintilante das rochas calcárias, como as que fazem as margens ardentes da Provença parecerem meio desertas. As encostas arredondadas de Patmos, e de quase todas as outras ilhas que povoam todas aquelas lindas águas, são férteis. Elas suportariam um florescimento denso e alimentariam grandes árvores, como faziam na antiguidade. O que destruiu as florestas foi a praga maometana.
O Islã é inimigo do que é gratuito, como é inimigo de todo esforço humano paciente e contínuo. O Islã derrubará florestas para combustível ou para construir ou por mera devastação, mas não se preocupará em replantar, muito menos em proteger, os brotos contra caprinos e outros inimigos. Então Patmos, embora seja fértil, está nua, como todos os seus vizinhos entre Creta e o Dardanelos. Não vemos, quando olhamos para ela, as coisas que São João viu, vemos algo que foi devastado. No tempo de São João, era arborizado. Tinha até bosques de palmeiras (dos quais restaram alguns). Era humano e com folhas. Agora está esvaziada e nua.
Se isto é verdade sobre a ausência de árvores, é ainda mais verdadeiro a respeito da ausência de casas. Não há maior contraste entre o leste e o oeste do Mediterrâneo, pelo menos entre a parte cristã principal e as margens que os turcos saqueavam, em vez de governar, do que esta fuga da habitação humana do litoral. Não há maior sinal do que os Turcos significavam para os habitantes das ilhas gregas. Significou massacres e saques esporádicos, tanto quando não conseguia proteger seus súditos da pirataria como quando ele próprio caia em um de seus acessos de raiva anti-cristã.
Homens construíam sob o vulto desse terror. Mas eles construíram pouco. Construíram de maneira distante e espaçada uns dos outros. A quantidade, declinou. Para termos uma imagem exata do que todo aquele mundo marinho era, no tempo dos primeiros cristãos, e compará-lo com o que vemos hoje, devemos entender o que a falsa doutrina pode trazer para o mundo. O paganismo antigo, sendo uma preparação para a Fé, não fez tanto mal. Foi o Maometanismo, a maior e mais virulenta das heresias (e a mais persistente), quem deve levar a culpa.
Outro pensamento que me ocorreu, ao passar por aquelas costas famosas mas agora solitárias, foi o significado para aquela época – e desde muito antes – do exílio. São João foi exilado em Patmos. Estava convenientemente perto de Éfeso, e ainda assim completamente isolado. Era um lugar pequeno, e por isso facilmente protegido, mas há aqui um problema histórico que eu nunca vi resolvido, e que é este: qual era o exato significado do exílio?
Era, podemos dizer, uma espécie de encarceramento livre e amplo. O grande fardo (para a maioria dos homens) era a separação do lar e dos amigos. É tudo o que sabemos; mas, como era imposto?
O mundo moderno está repleto de um sistema policial complexo e onipresente, tanto público quanto privado. Nunca se sabe, em Londres ou em Paris, em qualquer espaço ou veículo público, se a pessoa ao lado pode não ser o que se chama elegantemente de “um agente secreto”. Mas essa é uma das dádivas recentes da civilização. A antiguidade era mais casual. Um pequeno lugar como Patmos poderia ser vigiado de perto, mas não teria sido impossível, para um exilado, fugir. Então como eles conseguiram manter um homem importante como Ovídio, isolado, nas margens do Mar Negro? Colocando de outra maneira, como poderia Luís XIV, séculos depois, ter certeza de que um nobre a quem ele “exilou” de sua corte, para as províncias, “ficaria lá”?
Outro problema muito maior, uma questão muito mais importante, surge na mente quando se olha para Patmos, a partir do mar. Precisa ser respondido de uma forma ao mesmo tempo delicada e profunda. É o seguinte: por que surgiu um antagonismo agudo entre a Igreja Católica e a antiga civilização, da qual todos nós brotamos? Essa civilização é a nossa. Foi a sementeira da Fé, o mundo greco-romano foi aquele que a Igreja penetrou, transformou e, por fim, restaurou em melhor forma, após a provação da Idade Média. Por que ele resistiu tanto contra os primeiros movimentos da Verdade? O exílio de São João, em Patmos, foi um dos primeiros exemplos deste embate, que deveria durar, ainda, por mais três longas gerações. Qual foi a desavença deles conosco? Por que Tertuliano, que disse que as irmãs gêmeas, o Império e a Igreja, deveriam ser uma só, poupou os Césares da obrigação de se tornarem cristãos? Por que os Césares demoraram tanto tempo para aceitarem seu destino? Nós nunca tivemos uma solução completa para este enigma.
Sabemos muito bem porque a virulenta, debilitada e moderna hostilidade à Fé é o que ela é. É o ódio da corrupção pela saúde, o ódio do vício pela virtude. Mas, por que aquilo que foi o auge do amor em verso e em pedra lutou contra a completa beleza, tentando destruir a única harmonia possível?
Eu gostaria de sugerir que a batalha brotou de uma daquelas turvas mas profundas intuições sobre o futuro, “o grito dos que estão para nascer”, que parece ter, de alguma forma misteriosa, afetado os homens antes mesmo dos acontecimentos. Que os torna pouco sensíveis ao que não é, mas sim ao que deve ser. A Igreja Católica não veio para destruir, mas para completar. Lamentavelmente, aquilo que veio completar estava muito satisfeito com o seu próprio mal, bem como com o seu próprio bem. A ameaça de tanta mudança foi um desafio mortal. Daí (como me parece) o crescente atrito entre o antigo Império Romano e a Igreja Católica, para a qual esse Império era uma preparação tão nobre. Daí, penso eu também, a explicação da violência em que terminaram as perseguições. Houve uma espécie de espasmo, uma luta de vida e morte, já no final, a qual chamamos pelo nome geral de “perseguição diocleciana” – embora o próprio Diocleciano, pobre homem, não fosse o principal culpado.
Há sobre a Igreja Católica algo absoluto que exige, provoca, requer aliança ou hostilidade, amizade ou inimizade. Aquela verdade que você encontra, inalterada, através dos tempos, e por isso é que, logo no surgimento da Igreja, o desafio já está posto – e é isso o que Patmos significa.
Muito mais, é claro, me veio à mente, enquanto navegava lentamente para o sul, à noite, ao longo da costa e para além dela; e de todos os pensamentos que se apinhavam, este predominava: “Que belo reconhecimento é, para São João, que sua altíssima visão fosse particularmente desafiada pelos inimigos da religião!” Não foi apenas o mundo pagão da costa do Egeu que o tomou por inimigo. É, e tem sido, muito mais o ataque moderno e anti-cristão, que é e tem sido, obcecado por ele.
E ele é capaz de enfrentá-lo.
– Hilaire Belloc em seu livro de ensaios “Places”, 1942.